quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

BIOGRAFIA KIRIRI


    Historicamente, se poderia datar uma primeira aproximação dos Kiriri a uma ideia de território - assim como o conhecemos hoje, com seus limites bem definidos - no início do século XVIII, época da doação, por parte do então rei de Portugal, de uma légua em quadra de terras a todas as aldeias do sertão com mais de cem casais, fruto de solicitações constantes por parte dos jesuítas face aos conflitos decorrentes da expansão da pecuária, em especial com sesmeiros da região que interferiam com certa frequência na administração dos párocos das aldeias ali constituídas (Bandeira 1972).

Assim, Saco dos Morcegos, uma das quatro aldeias kipeá-kiriri fundadas pelos jesuítas, com uma população então estimada em 700 casais, foi delimitada como havia sido determinado, ou seja, a medida de uma légua de sesmaria (6.600 m), do centro a todas as partes, isto é, conforme o costume à época, da igreja missionária aos oito pontos cardeais e colaterais, formando um octógono regular de 12.320 ha (Bandeira, 1972).

O Alvará régio que regulamentou o processo de doação não se constituiria, contudo, por si só, durante muito tempo, em um instrumento eficaz de garantia dos índios à posse dessas terras, pois, após a expulsão dos jesuítas, em 1756, Saco dos Morcegos seria elevada a vila (em 1760), adotando a denominação atual de Mirandela (Bandeira, 1972).

A implantação de uma administração civil nas aldeias do sertão ensejou um processo de diferenciação entre índios e colonos, implicando uma significativa abertura para a invasão das terras indígenas e um forte processo de "desindianização" ao qual não resistiriam as demais aldeias dos Kipeá-Kiriri, depois de elevadas a vilas e submetidas à administração dos "Diretores de Índios" ao longo do século XIX (Brasileiro & Sampaio, s/d).

É muito provável que, dada a sua proximidade e a identidade cultural dos índios ali residentes, boa parte da população dessas vilas tenha se refugiado em Saco dos Morcegos, cuja sobrevivência pode ser atribuída a uma localização mais afastada das rotas da pecuária e a relativa inferioridade da fertilidade de suas terras, comparativamente às das demais aldeias. Deste modo, Saco dos Morcegos seria progressivamente ocupada por diversos outros segmentos camponeses não indígenas, repelidos justamente daquelas áreas mais valorizadas do agreste. Sua presença não restringiu drasticamente o espaço disponível para os Kiriri: uma pequena faixa íngreme de terras onde até há pouco residiam, constituindo cinco núcleos marginalmente localizados, circundados por pequenos povoados de regionais.

Kiriri de Mirandela, Bahia

Os índios Kiriri de Mirandela são um dos povos indígenas do Nordeste mais destemidos e heróicos. Vivem no leste da Bahia, há uns 250 km de Salvador. Foram missionizados no século XVIII e no século XIX sua antiga aldeia de missão tinha se tornado uma vila, chamada Mirandela.

No final do século muitos deles se mudaram para Canudos, participaram da vida daquele arraial de rebeldia e foram fundamentais na defesa de Antonio Conselheiro. A maioria morreu com o Conselheiro, mas alguns sobreviventes mantiveram a memória dessa passagem de sua vida política. Depois os Kiriri foram cada vez mais oprimidos, os brancos passaram a entrar em suas terras e Mirandela tornou-se a principal cidade da região. O SPI reconheceu-os como indígenas, o que segurou o processo de assimilação que estava ocorrendo à época.

A partir da década de 1950, alguns líderes Kiriri foram à cidade de Rodelas e convidaram pajés e religiosos Tuxá para ensinar-lhes os mistérios do Toré. Daí por diante foram retomando seus rituais e consolidando sua vida social. Na década de 1970 partiram para a reconquista de sua vila. Foram aos poucos conseguindo retomar terras que haviam perdido para os moradores e novos imigrantes na região. Ao final, na década de 1990, haviam reconquistado suas terras originais, consignadas a ele desde a época pós-jesuítica. Sua terra tem a forma de octógono com raios de seis km que saem do centro da vila de Mirandela.

É uma terra linda e verdejosa, fértil, na entrada do sertão da Bahia. Os Kiriri a amam muito e com muita razão. São excelentes agricultores e, agora com empréstimo do Pronaf, têm obtido excelentes resultados e estão se tornando cada vez mais independentes.

Muitos Kiriri foram fundamentais para a reconquista de suas terras. Quero destacar aqui o cacique Lázaro e o cacique Manuel, os dois maiores líderes da atualidade.

Parabéns aos Kiriri. Minhas homenagens a todos que lutam para preservar sua cultura e fazer parte da cultura brasileira também.

A foto ao lado foi tirada em janeiro de 2007 por ocasião da inauguração de duas Casas de Cultura que fizemos como parte do programa de resgate das culturas indígenas dirigido à época pelo indigenista Odenir Pinto de Oliveira.

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